Fonte: Revista Panorama da Aqüicultura nº 105
Por: Tina Kutti - Institute of Marine Research Benthic habitats and shellfish research group
e-mail: tina.kutti@imr.no
Uma viagem num mini submarino pelo fundo de um fiorde norueguês certamente é uma experiência muito enfadonha. A navegação é feita sobre intermináveis platôs de lama onde, em razão da escassez de alimentos, raramente se avista um animal. Entretanto, esse cenário vai se transformando à medida que se aproxima de uma fazenda de peixes marinhos operando corretamente os seus tanques-rede, onde o aumento da atividade biológica no fundo do mar passa a ser estimulado pelos dejetos da aqüicultura. O artigo a seguir apresenta os benefícios das fazendas marinhas ao meio ambiente, alvo dos estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Marinhas da Noruega (http://www.imr.no).
É bem sabido que o cultivo de peixes em tanques-rede libera carbono orgânico para as águas ao redor da piscicultura. Operando na taxa máxima de alimentação, uma fazenda de salmão de porte médio pode emitir de 1.500 a 3.000 quilos de dejetos diariamente. Esses dejetos consistem principalmente das excretas dos peixes e, mesmo nos dias atuais, alguma ração ainda é desperdiçada. E este suprimento extra de nutrientes da aqüicultura é uma fonte extra de nutrição capaz de aumentar a biomassa da fauna bentônica.
Por dois anos, o Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, tem estudado a dispersão da matéria orgânica, taxas de sedimentação e os animais que vivem no fundo de uma área com um raio de três quilômetros ao redor de uma fazenda de salmão localizada no fiorde de Hardanger. N. do E. - Hardangerfjorden, em norueguês, é o maior da Noruega e o terceiro maior do mundo com 179 km de comprimento, e um dos cinco maiores centro de produção de salmão do mundo. Como usar como NE ou Nota do Editor?
Trata-se de um cultivo de meio porte, que ao longo do seu ciclo produziu 2.910 toneladas de salmão e 300 toneladas de dejetos orgânicos. A fazenda está toda ancorada em um único ponto a 230 metros de profundidade e se desloca segundo a direção e a força dos ventos e das correntes. A área por onde se desloca é 30 vezes maior do que a área diretamente coberta pelos tanques-rede, fazendo com que os dejetos sejam relativamente bem dispersados. Apesar da fazenda estar produzindo salmão por mais de 10 anos, o local não é poluído, tendo sido observado mudanças no fundo do mar e um grande aumento na quantidade da fauna bentônica.
[url=http://imageshack.us]
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Fotos tiradas por um veículo operado remotamente (ROV na sigla em inglês) em estações de estudo a 250 metros (A, B e C) e 1.500 metros (D), ao norte da poita que prende os tanques-rede, um ano após o início do ciclo da produção de salmão. As fotos mostram uma abundância de ouriços Brissopsis lyrifera e pequenos poliquetas, além do aspecto de deserto das áreas do fiorde não afetadas pelo cultivo (D).
Aumento da produção na vizinhança
O efeito mais perceptível dos lançamentos dos dejetos orgânicos ficou restrito a 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda (Fotos). Nesta área, as taxas de sedimentação de carbono orgânico que foram encontradas foram nove vezes maiores do que as encontradas a três quilômetros de distância. Mesmo assim, não houve acúmulo de matéria orgânica no sedimento sendo a abundância, a biomassa e a produção de pequenos animais pelágicos, respectivamente, 10, 35 e 60 vezes maior do que os valores encontrados nas áreas não afetadas pelo empreendimento (Gráfico). Poliquetas, crustáceos e ouriços parecem se beneficiar muito bem do aumento da disponibilidade de alimento.
Maior diversidade na zona de transição
Apesar da maior parte da matéria orgânica ter sido dispersada num raio de 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda, a composição do sedimento mostrou que alguns dejetos foram dispersados à distâncias que variaram de 550 a 900 metros deste ponto. Nesta zona de transição, um número muito grande de espécies bentônicas foi encontrado, mas a densidade e a biomassa de animais que ingerem sedimentos foram bastante baixas (Gráfico). Nesta zona de transição, quando a produção de salmão está no seu pico, podem ser encontrados mais que o dobro do número de espécies encontradas nas vizinhanças da fazenda.
Efeitos em toda a cadeia alimentar
Apesar dos grandes efeitos na produção bentônica estarem restritos aos 250 metros ao redor da fazenda, a cadeia alimentar bentônica pode ser influenciada numa escala bem maior. Isso é particularmente verdadeiro para animais mais móveis como os peixes que habitam o fundo e os crustáceos que vivem sobre os sedimentos. Estudos mostram que os dejetos de uma fazenda de salmão são aproveitados pelo camarão Pandalus borealis que, quando capturados no inverno perto das fazendas, possuem uma maior quantidade de ácidos graxos na musculatura que os camarões capturados nos fiordes adjacentes, onde não existe a criação de salmão, o que sugere que o seu acesso ao alimento é mais estável ao longo do ano.
Importância da localização
Esses estudos destacam a importância dos locais com boas condições de dispersão e da adaptação do nível de produção aos animais e microorganismos do sedimento. Com uma boa localização, um grande nível de produção pode ser mantido por um longo período de tempo sem o acúmulo de matéria orgânica e com um grande incremento da fauna bentônica. A sobrecarga de um local pode ser evitada aumentando a área de sedimentação dos dejetos orgânicos dos cultivos, seja através da fixação da fazenda marinha em um único local, como no caso do estudo, ou ainda utilizando tanques-rede bem separados ao invés de uma fazenda compacta.
Abundância (A), biomassa (B) e número de espécies bentônicas (S) maiores que 1 mm,
provenientes de seis estações ao longo de um gradiente até 3 km distante da fazenda
de salmão no pico da produção (setembro e dezembro de 2004)
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Por: Tina Kutti - Institute of Marine Research Benthic habitats and shellfish research group
e-mail: tina.kutti@imr.no
Uma viagem num mini submarino pelo fundo de um fiorde norueguês certamente é uma experiência muito enfadonha. A navegação é feita sobre intermináveis platôs de lama onde, em razão da escassez de alimentos, raramente se avista um animal. Entretanto, esse cenário vai se transformando à medida que se aproxima de uma fazenda de peixes marinhos operando corretamente os seus tanques-rede, onde o aumento da atividade biológica no fundo do mar passa a ser estimulado pelos dejetos da aqüicultura. O artigo a seguir apresenta os benefícios das fazendas marinhas ao meio ambiente, alvo dos estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Marinhas da Noruega (http://www.imr.no).
É bem sabido que o cultivo de peixes em tanques-rede libera carbono orgânico para as águas ao redor da piscicultura. Operando na taxa máxima de alimentação, uma fazenda de salmão de porte médio pode emitir de 1.500 a 3.000 quilos de dejetos diariamente. Esses dejetos consistem principalmente das excretas dos peixes e, mesmo nos dias atuais, alguma ração ainda é desperdiçada. E este suprimento extra de nutrientes da aqüicultura é uma fonte extra de nutrição capaz de aumentar a biomassa da fauna bentônica.
Por dois anos, o Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, tem estudado a dispersão da matéria orgânica, taxas de sedimentação e os animais que vivem no fundo de uma área com um raio de três quilômetros ao redor de uma fazenda de salmão localizada no fiorde de Hardanger. N. do E. - Hardangerfjorden, em norueguês, é o maior da Noruega e o terceiro maior do mundo com 179 km de comprimento, e um dos cinco maiores centro de produção de salmão do mundo. Como usar como NE ou Nota do Editor?
Trata-se de um cultivo de meio porte, que ao longo do seu ciclo produziu 2.910 toneladas de salmão e 300 toneladas de dejetos orgânicos. A fazenda está toda ancorada em um único ponto a 230 metros de profundidade e se desloca segundo a direção e a força dos ventos e das correntes. A área por onde se desloca é 30 vezes maior do que a área diretamente coberta pelos tanques-rede, fazendo com que os dejetos sejam relativamente bem dispersados. Apesar da fazenda estar produzindo salmão por mais de 10 anos, o local não é poluído, tendo sido observado mudanças no fundo do mar e um grande aumento na quantidade da fauna bentônica.
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[/url]Fotos tiradas por um veículo operado remotamente (ROV na sigla em inglês) em estações de estudo a 250 metros (A, B e C) e 1.500 metros (D), ao norte da poita que prende os tanques-rede, um ano após o início do ciclo da produção de salmão. As fotos mostram uma abundância de ouriços Brissopsis lyrifera e pequenos poliquetas, além do aspecto de deserto das áreas do fiorde não afetadas pelo cultivo (D).
Aumento da produção na vizinhança
O efeito mais perceptível dos lançamentos dos dejetos orgânicos ficou restrito a 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda (Fotos). Nesta área, as taxas de sedimentação de carbono orgânico que foram encontradas foram nove vezes maiores do que as encontradas a três quilômetros de distância. Mesmo assim, não houve acúmulo de matéria orgânica no sedimento sendo a abundância, a biomassa e a produção de pequenos animais pelágicos, respectivamente, 10, 35 e 60 vezes maior do que os valores encontrados nas áreas não afetadas pelo empreendimento (Gráfico). Poliquetas, crustáceos e ouriços parecem se beneficiar muito bem do aumento da disponibilidade de alimento.
Maior diversidade na zona de transição
Apesar da maior parte da matéria orgânica ter sido dispersada num raio de 250 metros ao redor do ponto de ancoragem da fazenda, a composição do sedimento mostrou que alguns dejetos foram dispersados à distâncias que variaram de 550 a 900 metros deste ponto. Nesta zona de transição, um número muito grande de espécies bentônicas foi encontrado, mas a densidade e a biomassa de animais que ingerem sedimentos foram bastante baixas (Gráfico). Nesta zona de transição, quando a produção de salmão está no seu pico, podem ser encontrados mais que o dobro do número de espécies encontradas nas vizinhanças da fazenda.
Efeitos em toda a cadeia alimentar
Apesar dos grandes efeitos na produção bentônica estarem restritos aos 250 metros ao redor da fazenda, a cadeia alimentar bentônica pode ser influenciada numa escala bem maior. Isso é particularmente verdadeiro para animais mais móveis como os peixes que habitam o fundo e os crustáceos que vivem sobre os sedimentos. Estudos mostram que os dejetos de uma fazenda de salmão são aproveitados pelo camarão Pandalus borealis que, quando capturados no inverno perto das fazendas, possuem uma maior quantidade de ácidos graxos na musculatura que os camarões capturados nos fiordes adjacentes, onde não existe a criação de salmão, o que sugere que o seu acesso ao alimento é mais estável ao longo do ano.
Importância da localização
Esses estudos destacam a importância dos locais com boas condições de dispersão e da adaptação do nível de produção aos animais e microorganismos do sedimento. Com uma boa localização, um grande nível de produção pode ser mantido por um longo período de tempo sem o acúmulo de matéria orgânica e com um grande incremento da fauna bentônica. A sobrecarga de um local pode ser evitada aumentando a área de sedimentação dos dejetos orgânicos dos cultivos, seja através da fixação da fazenda marinha em um único local, como no caso do estudo, ou ainda utilizando tanques-rede bem separados ao invés de uma fazenda compacta.
Abundância (A), biomassa (B) e número de espécies bentônicas (S) maiores que 1 mm,
provenientes de seis estações ao longo de um gradiente até 3 km distante da fazenda
de salmão no pico da produção (setembro e dezembro de 2004)
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