Fonte: http://jc.uol.com.br/jornal/2007/01/07/not_215354.php
Publicado em 07.01.2007
INCENTIVO A pesca no Capibaribe é prática já incorporada à paisagem do Recife, que ganhou projeto de uma vila pesqueira
Arquiteto propõe que terreno da antiga Mesbla Náutica vire a Vila do pescador, um local para comercialização de peixes no Bairro de São José
CLEIDE ALVES
Nova proposta para utilização do terreno da antiga Mesbla Náutica, no bairro de São José, Centro do Recife, acaba de ser lançada na cidade. O lugar, onde estão sendo construídos dois polêmicos prédios residenciais, poderia funcionar como referência para a pesca urbana. Em vez de moradia, seria criado um espaço destinado à comercialização de peixes, crustáceos e moluscos e à valorização do pescador.
O projeto Vila do pescador – Espaço da mercancia, memória e cultura foi defendido por Maurício Guerra, no trabalho de conclusão do curso de graduação em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele levou em consideração as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores para escoamento do produto pescado e a necessidade de recuperação de uma área histórica da capital.
“Esse trecho da cidade precisa ser descortinado para a população e ter uso coletivo”, diz o arquiteto. Ele traduziu a idéia num prédio de três pavimentos, 12,10 metros de altura e 93,64 metros de comprimento, às margens da bacia do Pina, no estuário do Rio Capibaribe. Para garantir a visibilidade da paisagem, propõe o uso de material translúcido na vila.
O térreo é ocupado com 20 boxes para comercialização do pescado, a mesma quantidade para venda de artesanato ligado à pesca e quatro áreas de gastronomia. No primeiro pavimento estão projetadas varandas com vistas para o rio e o mar, duas salas com 16 computadores cada (telecentro), duas salas de aula com 28 lugares cada, biblioteca para divulgação de material científico e popular sobre a atividade pesqueira.
“Projetos do governo federal para educação de adultos, como o Pescando Letras, poderiam funcionar nesse espaço. O analfabetismo inibe o acesso a linhas de financiamento”, ressalta Maurício Guerra, que foi orientado pelo professor da UFPE Geraldo Marinho. Uma parte do primeiro pavimento abriga a administração. “É um tipo de projeto para ser compartilhado pelo poder público com os pescadores.”
No segundo pavimento, o arquiteto sugere a implantação de um memorial, com auditório e salas para exposições temporária (mostras fotográficas) e permanente (instrumentos de pesca, artesanato, mapas, dados sobre corrente marítimas). O projeto se completa com o pátio de serviços para recepção e tratamento do pescado, frigorífico para resfriamento do produto, píer, praça e estacionamento para 80 veículos.
Maurício Guerra sustenta a proposta em dados estatísticos do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral do Nordeste (Cepene), de 2002. A produção pesqueira artesanal chega a 5.748,1 toneladas por ano e a industrial, a 136,4 toneladas ao ano.
“O litoral de Pernambuco tem 187 quilômetros de extensão e passa por 14 municípios. Mas, é o quinto Estado do Nordeste em potencial de produção pesqueira. A realidade poderia ser diferente se houvesse mais apoio à pesca artesanal.” Há 33 comunidades pesqueiras na região e 11 mil pescadores.
Na avaliação do arquiteto, a proposta é viável, elimina a ação de atravessadores (conseqüentemente aumenta a renda dos pescadores) e contribui com a inclusão social e com o desenvolvimento sustentável. “A intervenção recai sobre as populações historicamente excluídas”, destaca. O prédio fica perto da estação central do metrô, do terminal de ônibus de Santa Rita e do comércio do Centro, áreas de grande circulação.
Edvaldo Martins, vice-presidente da Associação de Pescadores de Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife, considera a proposta positiva. “Não temos onde armazenar o peixe e vendemos o produto a um preço muito baixo aos atravessadores”, diz. Segundo ele, no mês passado, um único pescador perdeu 800 quilos de sardinha por falta de um local para estocagem.
Cursos para reciclagem profissional, destaca Edvaldo Martins, são bem-vindos. Para José Moraes de Santana, 53 anos, que pesca no Centro do Recife há 34 anos, o projeto é importante. “A gente precisa mesmo de um lugar adequado para tratar e vender o peixe”, diz. O pescador Altemir Vieira, 59, morador de Santo Amaro, área central do Recife, também apóia a proposta. “Hoje, preciso vender logo o pescado, para não apodrecer, porque não tenho onde armazenar.” A construção dos prédios no terreno da Mesbla Náutica está suspensa, temporariamente, por determinação do Ministério Público Federal.
Publicado em 07.01.2007
INCENTIVO A pesca no Capibaribe é prática já incorporada à paisagem do Recife, que ganhou projeto de uma vila pesqueira
Arquiteto propõe que terreno da antiga Mesbla Náutica vire a Vila do pescador, um local para comercialização de peixes no Bairro de São José
CLEIDE ALVES
Nova proposta para utilização do terreno da antiga Mesbla Náutica, no bairro de São José, Centro do Recife, acaba de ser lançada na cidade. O lugar, onde estão sendo construídos dois polêmicos prédios residenciais, poderia funcionar como referência para a pesca urbana. Em vez de moradia, seria criado um espaço destinado à comercialização de peixes, crustáceos e moluscos e à valorização do pescador.
O projeto Vila do pescador – Espaço da mercancia, memória e cultura foi defendido por Maurício Guerra, no trabalho de conclusão do curso de graduação em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele levou em consideração as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores para escoamento do produto pescado e a necessidade de recuperação de uma área histórica da capital.
“Esse trecho da cidade precisa ser descortinado para a população e ter uso coletivo”, diz o arquiteto. Ele traduziu a idéia num prédio de três pavimentos, 12,10 metros de altura e 93,64 metros de comprimento, às margens da bacia do Pina, no estuário do Rio Capibaribe. Para garantir a visibilidade da paisagem, propõe o uso de material translúcido na vila.
O térreo é ocupado com 20 boxes para comercialização do pescado, a mesma quantidade para venda de artesanato ligado à pesca e quatro áreas de gastronomia. No primeiro pavimento estão projetadas varandas com vistas para o rio e o mar, duas salas com 16 computadores cada (telecentro), duas salas de aula com 28 lugares cada, biblioteca para divulgação de material científico e popular sobre a atividade pesqueira.
“Projetos do governo federal para educação de adultos, como o Pescando Letras, poderiam funcionar nesse espaço. O analfabetismo inibe o acesso a linhas de financiamento”, ressalta Maurício Guerra, que foi orientado pelo professor da UFPE Geraldo Marinho. Uma parte do primeiro pavimento abriga a administração. “É um tipo de projeto para ser compartilhado pelo poder público com os pescadores.”
No segundo pavimento, o arquiteto sugere a implantação de um memorial, com auditório e salas para exposições temporária (mostras fotográficas) e permanente (instrumentos de pesca, artesanato, mapas, dados sobre corrente marítimas). O projeto se completa com o pátio de serviços para recepção e tratamento do pescado, frigorífico para resfriamento do produto, píer, praça e estacionamento para 80 veículos.
Maurício Guerra sustenta a proposta em dados estatísticos do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral do Nordeste (Cepene), de 2002. A produção pesqueira artesanal chega a 5.748,1 toneladas por ano e a industrial, a 136,4 toneladas ao ano.
“O litoral de Pernambuco tem 187 quilômetros de extensão e passa por 14 municípios. Mas, é o quinto Estado do Nordeste em potencial de produção pesqueira. A realidade poderia ser diferente se houvesse mais apoio à pesca artesanal.” Há 33 comunidades pesqueiras na região e 11 mil pescadores.
Na avaliação do arquiteto, a proposta é viável, elimina a ação de atravessadores (conseqüentemente aumenta a renda dos pescadores) e contribui com a inclusão social e com o desenvolvimento sustentável. “A intervenção recai sobre as populações historicamente excluídas”, destaca. O prédio fica perto da estação central do metrô, do terminal de ônibus de Santa Rita e do comércio do Centro, áreas de grande circulação.
Edvaldo Martins, vice-presidente da Associação de Pescadores de Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife, considera a proposta positiva. “Não temos onde armazenar o peixe e vendemos o produto a um preço muito baixo aos atravessadores”, diz. Segundo ele, no mês passado, um único pescador perdeu 800 quilos de sardinha por falta de um local para estocagem.
Cursos para reciclagem profissional, destaca Edvaldo Martins, são bem-vindos. Para José Moraes de Santana, 53 anos, que pesca no Centro do Recife há 34 anos, o projeto é importante. “A gente precisa mesmo de um lugar adequado para tratar e vender o peixe”, diz. O pescador Altemir Vieira, 59, morador de Santo Amaro, área central do Recife, também apóia a proposta. “Hoje, preciso vender logo o pescado, para não apodrecer, porque não tenho onde armazenar.” A construção dos prédios no terreno da Mesbla Náutica está suspensa, temporariamente, por determinação do Ministério Público Federal.





