Maricultura beneficiará pescadores artesanais no Recife, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes
Por Ricardo Corrêa
Enormes cardumes passarão a freqüentar a costa pernambucana no início do próximo ano. Não que o Recife seja rota migratória desses animais marinhos e também não se trata de um dos fenômenos que a natureza, vez por outra, proporciona. Tudo faz parte de um projeto de geração de renda através da maricultura em tanques-rede flutuantes que beneficiará pescadores artesanais do Cabo de Santo Agostinho; de Jaboatão dos Guararapes, integrantes da associação de pescadores de Barra de Jangada e da Colônia de Pesca de Candeias (Z25); e do Recife, participantes da Colônia de Pesca do Pina (Z1). Os peixes que povoarão as águas salgadas em frente a praia de Boa Viagem são os beijupirás (Rachycentron canadum), com produção estimada em 70 toneladas por ano. O beijupirá tem uma característica curiosa, seu corpo é fusiforme e lembra um tubarão de pequeno porte, por isso é conhecido também como cação de escamas. A alcunha, aliás, dá nome à primeira das duas iniciativas que vão somar forças para beneficiar quem tira o sustento do mar: o Projeto Cação de Escamas e o Projeto de Cultivo de Beijupirás.
Os seis tanques-rede, que medem 16 metros de diâmetro por seis de profundidade, serão instalados a oito quilômetros da orla e terão capacidade para produzir 12 toneladas de peixes por ano cada um. A aquisição dos equipamentos e o treinamento dos pescadores foi possível graças a uma parceria entre a Associação de Pescadores de Barra de Jangada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, que coordena o projeto, a Odebrecht Realizações Imobiliárias, através da Reserva do Paiva, o Sebrae e o Instituto Solidaris. O Projeto de Cultivo do Beijupirá é financiado pelo Programa de Desenvolvimento e Cidadania da Petrobras, e o Cação de Escamas recebe aporte do Ministério da Pesca e Aquicultura. De acordo com o membro da Associação de Pescadores de Barra de Jangada José Severino dos Santos, conhecido como “Badoque”, a medida veio em boa hora. “Os pescadores aqui da Barra (de Jangada) estão vendo o cultivo dos peixes da melhor forma possível. Essa criação vai permitir que a gente domine a produção de peixe e mude as expectativas de muitas famílias que tiram o sustento do mar”, afirma Santos.
Em Barra de Jangada cerca de 70 pessoas estão sendo capacitadas com noções de cooperativismo e maricultura para participar do programa. “São pescadores que chegam a ficar de quatro a cinco meses por ano sem trabalho e sem renda por conta da entressafra das espécies comerciais. Com a criação de beijupirás esses pescadores terão não só uma opção para aumentar os ganhos mensais como também conseguirão receita em períodos que antes ficariam ociosos”, ressalta a líder de sustentabilidade da Reserva do Paiva, Ana Lucia Leão. A Reserva do Paiva ficou responsável por fornecer os recursos humanos e assessoria técnica em educação ambiental e práticas sustentáveis para viabilizar o treinamento dos envolvidos.
A escolha do beijupirá como peixe de cultivo se baseou em condições técnicas e levou em conta o valor de mercado do pescado. De acordo com o professor Ronaldo Cavalli, que coordena o projeto Cação de Escama pela UFRPE, “o beijupirá é a única espécie marinha brasileira que tem tecnologia de cultivo 100% dominada. Já se conhece todo o ciclo de vida do peixe e já existe uma ração especifica que atende ás necessidades dele. Além do mais, apresenta uma boa taxa de crescimento e tem carne apreciada no mercado” explica Cavalli. O Beijupirá pode crescer, em média, cinco quilos por ano e atingir quase dois metros de comprimento chegando a pesar, quando adulto, 80 quilos. Entretanto, os exemplares cultivados não chegarão a atingir esse porte para facilitar o manejo do produto. Sua carne é saborosa e bem cotada no mercado, sendo usada, inclusive, no preparo de sushi e sashimi.
Apesar de ser nativo da costa brasileira, não é comum encontrar esse tipo de peixe à venda nos mercados. Isso porque, ainda que não esteja entre as espécies ameaçadas de extinção, o beijupirá é considerado um peixe raro. De acordo com o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), apenas 0,1% dos peixes coletados durante estudo pertenciam a esta espécie. Em outras palavras, a cada mil peixes capturados somente um era cação de escamas. O cultivo do pescado tornará o beijupirá mais acessível à população de maneira geral, sem falar que servirá para suprir a carência nutricional das colônias pesqueiras envolvidas.















