Fonte: Jornal do Commercio
Projeto em Serra Talhada, Sertão, também aproveita escamas, aumenta renda dos pescadores e reduz poluição
Antes descartados no meio ambiente, escamas e couro de tilápias estão virando artesanato numa comunidade do Sertão de Pernambuco. O projeto, premiado em concurso nacional, é desenvolvido num açude em Serra Talhada, a 415 quilômetros do Recife, com o apoio técnico da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Além de aumentar a renda dos pescadores, o reaproveitamento diminui a poluição. Primeiro a gente jogava tudo fora. Agora só vai pro lixo a carcaça, diz o presidente da Associação de Pescadores do Açude Saco, Orenildo Laurentino dos Santos.
Com produção semanal de meia tonelada de filés de tilápia, a pesca em tanques-rede é a principal atividade da comunidade que vive em torno do açude, estimada em 187 famílias. Da proximidade com a unidade acadêmica da UFRPE em Serra Talhada o açude fica na frente surgiu o apoio de pesquisadores.
O acúmulo dos restos de produção se constitui um problema ambiental e também de saúde pública, uma vez que o lixo atrai vetores de doenças, justifica a professora Weruska de Melo Costa.
Iniciado em 2010, hoje o projeto tem como carro-chefe as rosas de escama. Usadas principalmente na confecção de argolas de guardanapo, servem também para objetos de decoração e biojoias.
O couro, que pode ser empregado em bolsas e sapatos, por enquanto só está sendo estocado. A ideia é que sirva para a produção de artesanato na entressafra.
Embora a tilápia produza o ano inteiro, é preciso estabelecer um período de defeso. Assim o peixe crescerá mais e, consequentemente, fornecerá um filé de maior tamanho, diz Weruska. Se os pescadores tiverem estocados escama e couro, a renda estará garantida durante o defeso, prevê Weruska.
A pesquisadora, do Departamento de Pesca, ainda não tem ideia de em quais meses do ano a pesca seria suspensa. Pode ser até duas vezes, em janeiro e julho, por exemplo.
Com 600 hectares, o Açude Saco não produz apenas tilápias. Há outros peixes, como tambaquis, carpas, curimãs e traíras, além de camarões. Mas a tilápia é o de maior valor de mercado. Um quilo é vendido a R$ 8. Perde para o camarão, que custa R$ 12, mas ganha para todos os outros peixes.
Os pescadores do Açude Saco costumam fazer a filetagem, que é a remoção das vísceras, do couro e da espinha. O processo, embora confira um maior valor comercial ao peixe, resulta em mais lixo. Entre eles o mais poluente são as vísceras, que podem impermeabilizar o solo quando descartadas a céu aberto, como é o caso de Serra Talhada.
Para cada quilo de peixe processado sobram 100 gramas de vísceras. O próximo passo do projeto será o processamento desse resíduo, evitando desperdício de matéria-prima e poluição ambiental. Já ouvi falar, sim, que no Ceará se aproveita as vísceras para a produção de biodiesel. Isso seria o ideal para a nossa associação, considera Orenildo Santos.
Outra contribuição da UFRPE será no curtimento do couro. Baseada em solventes químicos, a atividade pode ser feita à base de produtos vegetais. No lugar de formol, estamos testando cloro de piscina, adianta Weruska, além de glicerina vegetal e papaína (ensina extraída do mamão que é usada no amaciamento de carnes).
Segundo a pesquisadora, as metodologias tradicionais de curtimento utilizam reagentes com potencial tóxico, cancerígenos e acumulativos no ambiente. Queremos empregar metodologia que segue a linha ecologicamente correta com base em materiais naturais, voláteis e ambientalmente adequados.
Intitulado Aproveitamento de resíduos de tilápia, o projeto foi um dos vencedores, na categoria universidade solidária, do prêmio de empreendedorismo do banco Santander.
O grupo da UFRPE receberá R$ 100 mil, metade em 2012 e o restante em 2013, para dar continuidade ao trabalho com os pescadores do Açude Saco, localizado em fazenda de mesmo nome, com 3.200 hectares, pertencente ao Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).
O material permanente comprado com a verba, como mesas de trabalho, computadores e equipamentos, será de propriedade da associação.
Dos 20 projetos premiados em todo o Brasil, em quatro categorias, o de Serra Talhada enquadrado como Universidade Solidária foi o único de Pernambuco. A solenidade de entrega do prêmio ocorreu na última segunda-feira, em São Paulo.
Projeto em Serra Talhada, Sertão, também aproveita escamas, aumenta renda dos pescadores e reduz poluição
Antes descartados no meio ambiente, escamas e couro de tilápias estão virando artesanato numa comunidade do Sertão de Pernambuco. O projeto, premiado em concurso nacional, é desenvolvido num açude em Serra Talhada, a 415 quilômetros do Recife, com o apoio técnico da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Além de aumentar a renda dos pescadores, o reaproveitamento diminui a poluição. Primeiro a gente jogava tudo fora. Agora só vai pro lixo a carcaça, diz o presidente da Associação de Pescadores do Açude Saco, Orenildo Laurentino dos Santos.
Com produção semanal de meia tonelada de filés de tilápia, a pesca em tanques-rede é a principal atividade da comunidade que vive em torno do açude, estimada em 187 famílias. Da proximidade com a unidade acadêmica da UFRPE em Serra Talhada o açude fica na frente surgiu o apoio de pesquisadores.
O acúmulo dos restos de produção se constitui um problema ambiental e também de saúde pública, uma vez que o lixo atrai vetores de doenças, justifica a professora Weruska de Melo Costa.
Iniciado em 2010, hoje o projeto tem como carro-chefe as rosas de escama. Usadas principalmente na confecção de argolas de guardanapo, servem também para objetos de decoração e biojoias.
O couro, que pode ser empregado em bolsas e sapatos, por enquanto só está sendo estocado. A ideia é que sirva para a produção de artesanato na entressafra.
Embora a tilápia produza o ano inteiro, é preciso estabelecer um período de defeso. Assim o peixe crescerá mais e, consequentemente, fornecerá um filé de maior tamanho, diz Weruska. Se os pescadores tiverem estocados escama e couro, a renda estará garantida durante o defeso, prevê Weruska.
A pesquisadora, do Departamento de Pesca, ainda não tem ideia de em quais meses do ano a pesca seria suspensa. Pode ser até duas vezes, em janeiro e julho, por exemplo.
Com 600 hectares, o Açude Saco não produz apenas tilápias. Há outros peixes, como tambaquis, carpas, curimãs e traíras, além de camarões. Mas a tilápia é o de maior valor de mercado. Um quilo é vendido a R$ 8. Perde para o camarão, que custa R$ 12, mas ganha para todos os outros peixes.
Os pescadores do Açude Saco costumam fazer a filetagem, que é a remoção das vísceras, do couro e da espinha. O processo, embora confira um maior valor comercial ao peixe, resulta em mais lixo. Entre eles o mais poluente são as vísceras, que podem impermeabilizar o solo quando descartadas a céu aberto, como é o caso de Serra Talhada.
Para cada quilo de peixe processado sobram 100 gramas de vísceras. O próximo passo do projeto será o processamento desse resíduo, evitando desperdício de matéria-prima e poluição ambiental. Já ouvi falar, sim, que no Ceará se aproveita as vísceras para a produção de biodiesel. Isso seria o ideal para a nossa associação, considera Orenildo Santos.
Outra contribuição da UFRPE será no curtimento do couro. Baseada em solventes químicos, a atividade pode ser feita à base de produtos vegetais. No lugar de formol, estamos testando cloro de piscina, adianta Weruska, além de glicerina vegetal e papaína (ensina extraída do mamão que é usada no amaciamento de carnes).
Segundo a pesquisadora, as metodologias tradicionais de curtimento utilizam reagentes com potencial tóxico, cancerígenos e acumulativos no ambiente. Queremos empregar metodologia que segue a linha ecologicamente correta com base em materiais naturais, voláteis e ambientalmente adequados.
Intitulado Aproveitamento de resíduos de tilápia, o projeto foi um dos vencedores, na categoria universidade solidária, do prêmio de empreendedorismo do banco Santander.
O grupo da UFRPE receberá R$ 100 mil, metade em 2012 e o restante em 2013, para dar continuidade ao trabalho com os pescadores do Açude Saco, localizado em fazenda de mesmo nome, com 3.200 hectares, pertencente ao Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).
O material permanente comprado com a verba, como mesas de trabalho, computadores e equipamentos, será de propriedade da associação.
Dos 20 projetos premiados em todo o Brasil, em quatro categorias, o de Serra Talhada enquadrado como Universidade Solidária foi o único de Pernambuco. A solenidade de entrega do prêmio ocorreu na última segunda-feira, em São Paulo.






