por Fonte: Jornal do Commercio
Estudiosos alegam que três mandíbulas do animal foram achada no Arquipélago de São Pedro e São Paulo entre 2009 e 2010
O tubarão-das-galápagos, ao contrário do que afirmaram recentemente cientistas, não está extinto no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, único lugar de ocorrência da espécie no Oceano Atlântico Sul. Três mandíbulas de animais capturados no local entre 2009 e 2010 são dessa espécie, garante especialista.
As maxilas, depositadas na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), chamaram a atenção do pesquisador Jules Soto, da Universidade do Vale do Itajaí (SC), durante visita à instituição, ano passado.
Após comparar com mandíbulas de outros tubarões, ele anunciou a descoberta em agosto, em encontro de especialistas em tubarões e raias realizado na Universidade Federal do Rio Grande (RS). O resumo é assinado por ele e pelo professor Fábio Hazin, da UFRPE.
No mesmo mês, o biólogo do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas Osmar José Luiz Júnior publicou artigo na prestigiosa revista científica Biological Conservation sobre a extinção local da espécie.
Baseado em relatos históricos e comunicações científicas feitas de 1979 a 2009, o pesquisador concluiu que há pelo menos três décadas o animal não é avistado no arquipélago. O último registro, de acordo com o levantamento de Osmar José Luiz Júnior, ocorreu em 1979.
Na opinião de Rosângela Lessa, professora do Departamento de Pesca da UFRPE, provavelmente o animal, embora raro, não está mesmo extinto no arquipélago. Ela acredita na possibilidade de pesquisadores terem confundido o tubarão-das-galápagos com outras espécies do mesmo gênero.
A pesquisadora lembra que a denominação científica dos seres vivos utiliza pelo menos dois termos. O primeiro corresponde ao gênero e o segundo à espécie. O nome do tubarão-das-galápagos, que atinge três metros e se alimenta de outros peixes e moluscos, é Carcharhinus galapagensis.
Para a oceanóloga, uma das possibilidades é os últimos levantamentos terem apontado equivocadamente o Carcharhinus falciformis, conhecido popularmente como tubarão-de-lombo-preto, como o tubarão-das-galápagos. Espécies do mesmo gênero costumam ter semelhanças morfológicas.
Outra hipótese levantada em agosto, conta Rosângela, durante a reunião da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (Sbeel), aponta a sazonalidade características de tubarões habitantes de ilhas oceânicas.
"Há relatos científicos de que o tubarão-das-galápagos migra de uma ilha para outra em função da densidade populacional. Isso justificaria o fato de não ser fácil encontrá-lo em São Pedro e São Paulo", afirma a pesquisadora, conselheira da Sbeel e uma das coordenadoras dos estudos de avaliação do estado de conservação dos tubarões e raias no Brasil.
ENTREVISTA - OSMAR JOSÉ LUIZ JÚNIOR
"Espécie continua extinta"
Osmar José Luiz Júnior, da Unesp, é coautor do artigo científico sobre a extinção de tubarão por conta da pesca no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, que está sendo contestado. Em entrevista por e-mail o biólogo rebate as críticas.
JC – Três mandíbulas de tubarões capturados entre 2009 e 2010 no arquipélago foram identificadas como de tubarão-das-galápagos, mas o senhor diz que eles estão extintos no local desde 1979. Como isso é possível?
OSMAR JOSÉ LUIZ JR. – Alguns pesquisadores do laboratório de engenharia pesqueira na UFRPE vem utilizando esse resumo na tentativa de desmentir os resultados de meu artigo. Eu considero isso uma tentativa desesperada de eximir a pesca dos danos causados por ela no arquipélago, já que esses pesquisadores dependem dessa pesca para conseguir os dados de suas pesquisas. Para essas pessoas não importa que o ambiente esteja sendo destruído, desde que elas tenham acesso aos dados dos pescadores. Eu apenas lamento que colegas estejam agindo de maneira tão egoísta com o meio ambiente para benefício próprio. Chega a ser curioso eles apresentarem restos mortais do tubarão em questão, na tentativa de provar que a espécie ainda está viva.
JC – Mas a espécie está ou não extinta no local?
OSMAR – Dizer que a espécie não foi extinta porque três indivíduos foram capturados não refresca o problema, pois ela continua ecologicamente extinta, ou seja, sem capacidade de exercer sua função ecológica devido ao número extremamente reduzido de exemplares.
JC – O senhor contesta as evidências da UFRPE?
OSMAR – Um resumo publicado em anais de um congresso não tem o mesmo rigor científico de um artigo completo de um periódico internacional. Não estou dizendo isso para desmerecer o trabalho deles, mas apenas para enfatizar que o resultado ainda não foi avaliado por terceiros e as fotos das mandíbulas não foram publicadas para que a comunidade científica possa avaliar de maneira independente sua identidade.
JC – A espécie, além do arquipélago, é encontrada onde?
OSMAR – Essa espécie ocorre em ilhas oceânicas isoladas ao redor do mundo, e sua população vem sofrendo uma forte diminuição em todos os lugares onde ocorre. Exemplos de lugares aonde ainda hoje ela pode ser encontrada incluem as Ilhas Galápagos, local que deu o nome à espécie, e nas ilhas do Havaí, ambas no Oceano Pacífico. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo era o único local no Oceano Atlântico onde uma população residente desta espécie era registrada.
Estudiosos alegam que três mandíbulas do animal foram achada no Arquipélago de São Pedro e São Paulo entre 2009 e 2010
O tubarão-das-galápagos, ao contrário do que afirmaram recentemente cientistas, não está extinto no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, único lugar de ocorrência da espécie no Oceano Atlântico Sul. Três mandíbulas de animais capturados no local entre 2009 e 2010 são dessa espécie, garante especialista.
As maxilas, depositadas na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), chamaram a atenção do pesquisador Jules Soto, da Universidade do Vale do Itajaí (SC), durante visita à instituição, ano passado.
Após comparar com mandíbulas de outros tubarões, ele anunciou a descoberta em agosto, em encontro de especialistas em tubarões e raias realizado na Universidade Federal do Rio Grande (RS). O resumo é assinado por ele e pelo professor Fábio Hazin, da UFRPE.
No mesmo mês, o biólogo do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas Osmar José Luiz Júnior publicou artigo na prestigiosa revista científica Biological Conservation sobre a extinção local da espécie.
Baseado em relatos históricos e comunicações científicas feitas de 1979 a 2009, o pesquisador concluiu que há pelo menos três décadas o animal não é avistado no arquipélago. O último registro, de acordo com o levantamento de Osmar José Luiz Júnior, ocorreu em 1979.
Na opinião de Rosângela Lessa, professora do Departamento de Pesca da UFRPE, provavelmente o animal, embora raro, não está mesmo extinto no arquipélago. Ela acredita na possibilidade de pesquisadores terem confundido o tubarão-das-galápagos com outras espécies do mesmo gênero.
A pesquisadora lembra que a denominação científica dos seres vivos utiliza pelo menos dois termos. O primeiro corresponde ao gênero e o segundo à espécie. O nome do tubarão-das-galápagos, que atinge três metros e se alimenta de outros peixes e moluscos, é Carcharhinus galapagensis.
Para a oceanóloga, uma das possibilidades é os últimos levantamentos terem apontado equivocadamente o Carcharhinus falciformis, conhecido popularmente como tubarão-de-lombo-preto, como o tubarão-das-galápagos. Espécies do mesmo gênero costumam ter semelhanças morfológicas.
Outra hipótese levantada em agosto, conta Rosângela, durante a reunião da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (Sbeel), aponta a sazonalidade características de tubarões habitantes de ilhas oceânicas.
"Há relatos científicos de que o tubarão-das-galápagos migra de uma ilha para outra em função da densidade populacional. Isso justificaria o fato de não ser fácil encontrá-lo em São Pedro e São Paulo", afirma a pesquisadora, conselheira da Sbeel e uma das coordenadoras dos estudos de avaliação do estado de conservação dos tubarões e raias no Brasil.
ENTREVISTA - OSMAR JOSÉ LUIZ JÚNIOR
"Espécie continua extinta"
Osmar José Luiz Júnior, da Unesp, é coautor do artigo científico sobre a extinção de tubarão por conta da pesca no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, que está sendo contestado. Em entrevista por e-mail o biólogo rebate as críticas.
JC – Três mandíbulas de tubarões capturados entre 2009 e 2010 no arquipélago foram identificadas como de tubarão-das-galápagos, mas o senhor diz que eles estão extintos no local desde 1979. Como isso é possível?
OSMAR JOSÉ LUIZ JR. – Alguns pesquisadores do laboratório de engenharia pesqueira na UFRPE vem utilizando esse resumo na tentativa de desmentir os resultados de meu artigo. Eu considero isso uma tentativa desesperada de eximir a pesca dos danos causados por ela no arquipélago, já que esses pesquisadores dependem dessa pesca para conseguir os dados de suas pesquisas. Para essas pessoas não importa que o ambiente esteja sendo destruído, desde que elas tenham acesso aos dados dos pescadores. Eu apenas lamento que colegas estejam agindo de maneira tão egoísta com o meio ambiente para benefício próprio. Chega a ser curioso eles apresentarem restos mortais do tubarão em questão, na tentativa de provar que a espécie ainda está viva.
JC – Mas a espécie está ou não extinta no local?
OSMAR – Dizer que a espécie não foi extinta porque três indivíduos foram capturados não refresca o problema, pois ela continua ecologicamente extinta, ou seja, sem capacidade de exercer sua função ecológica devido ao número extremamente reduzido de exemplares.
JC – O senhor contesta as evidências da UFRPE?
OSMAR – Um resumo publicado em anais de um congresso não tem o mesmo rigor científico de um artigo completo de um periódico internacional. Não estou dizendo isso para desmerecer o trabalho deles, mas apenas para enfatizar que o resultado ainda não foi avaliado por terceiros e as fotos das mandíbulas não foram publicadas para que a comunidade científica possa avaliar de maneira independente sua identidade.
JC – A espécie, além do arquipélago, é encontrada onde?
OSMAR – Essa espécie ocorre em ilhas oceânicas isoladas ao redor do mundo, e sua população vem sofrendo uma forte diminuição em todos os lugares onde ocorre. Exemplos de lugares aonde ainda hoje ela pode ser encontrada incluem as Ilhas Galápagos, local que deu o nome à espécie, e nas ilhas do Havaí, ambas no Oceano Pacífico. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo era o único local no Oceano Atlântico onde uma população residente desta espécie era registrada.
