Concordo contigo que é “100% mais eficiente que a pesca com redes, onde os peixes são mortos, e ai sim, nenhuma chance é dada a eles”. Eu me referi aos possíveis aventureiros que travestidos de pescadores esportivos e após ter investido uma boa grana entre viagens, hospedagens, guias, barcos etc., jamais admitiriam a possibilidade de “não” embarcar um tarpon de 60/70kg. O guia não se importaria, pois o negócio dele está em jogo. A não ser que fosse preparado e com conhecimentos técnicos, inclusive biológico do espécime. Veja bem, não importa o instrumento de contenção que o pescador está usando. A briga com camurupim de 60 kg é um espetáculo único, com componentes de extremo estresse tanto do pescador como do peixe e é lógico que, uma vez bem fisgado, estamos levando vantagem, pois podemos nos deslocar rapidamente, material e equipamento de ponta e condições de menor exaustão física. O peixe luta desesperadamente consumindo toda sua energia nos saltos, mergulhos e em corridas de alta velocidade ora na superfície ora mais submerso. Sua constituição orgânica e biológica evoluiu para uma adaptação da bexiga natatória que permite a oxigenação aérea, uma espécie de pulmão rudimentar, e nessas condições de extremo esforço ele não consegue respirar adequadamente, fato que por si só, após 30/40 minutos, às vezes mais, o extenua por completo. Nessas condições, a bexiga incha exageradamente e para de funcionar. O peixe está entregue e é trazido já boiando próximo ao barco. É um equívoco imaginar que quanto mais tempo de luta melhor. Agora é seguro pelo bicheiro ou pelo alicate e puxado para o convés do barco e aí mais dois problemas que costumam ser fatais: o deslocamento da mandíbula (não esqueça que é um peixe de 60kg, pode ser mais ou menos) que afeta diretamente a e sua espinha dorsal e o rompimento da bexiga (muito inchada) e outros órgãos internos quando seu corpanzil desliza no arrastamento pela borda do barco achatando seu abdômen que fica com quase o dobro da circunferência. Esse movimento(arrastamento para dentro da embarcação), se não bastassem as situações descritas elimina o muco protetor das escamas além de danos na raiz da escamas que o deixa sensível às doenças e parasitas.
O embarque de um espécime desses aqui para nós seria apenas possível em condições muito especiais. Levar o peixe para águas rasas (ou até a praia) onde dois ou mais pescadores auxiliariam o embarque de dentro da água para o barco através de uma rede (espécie de maca) ou o embarque, também com auxilio extra, pela entrada de popa nas embarcações com essa opção. Essas técnicas são usadas pelos americanos com a Guarda Costeira do lado. Coisa que dificilmente poderíamos fazer por aqui.
Digo-lhe isso em função de experiências terríveis que já tive com os camurupins mortos após o embarque, fato que me levou a estudá-los mais profundamente e mudar meu conceito de embarque. Sou mais cortar a linha do que colocar em risco um belo peixe desses. Já fizemos isso algumas vezes. É de cortar o coração, mas privilegiamos a vida do “Rei de Prata”. Eu e meus filhos já ficamos sem dormir pensando no lindo troféu que acabávamos de perder em várias oportunidades.
A tentativa de levá-lo às águas rasas para nós é a mais prática, desde que não haja uma distância muito grande entre os locais.
É óbvio que estamos falando de um peixe adulto. Quanto às pemas o problema é em menor escala, porém, há de se observar ainda que possa não parecer, os cuidados com o estresse exagerado (tempo gasto no domínio), a mandíbula presa em contendor quando chacoalhar a cabeça com aquela violência característica, a exposição exagerada fora dágua e em especial evitar a perda do líquido mucoso que escorre das escamas.
Eu pessoalmente não acredito que um camurupim adulto embarcado e fotografado nas condições que não sejam as observadas, possa sobreviver após sua soltura.
Lógico que estou falando de minha experiência aqui no Maranhão.
Creio que para podermos explorar esse potencial do turismo da pesca esportiva, teremos que desenvolver uma alteração cultural voltada para a preservação e conservacionismo e, sobretudo uma fiscalização que coíba a predação. Agora vejamos, somos um povo que pesca na piracema e no defeso, levamos toneladas de peixe para casa, não respeitamos as mais simples das leis de civilidade e não temos sistemas constituídos de fiscalização eficiente. Temos dezenas de exemplo de desobediência legais por aqui.
Claro que não estou radicalizando. Sou totalmente a favor da pesca de turismo. Mas acho que ainda, no caso do camurupins, hoje seria temerário.
Talvez seja eu suspeito para tratar desse assunto visto ter verdadeira adoração pelos camurupins e temer, um dia, por uma corrida transloucada e sem nenhum critério para a sua pescaria.
Acredite: tenho ciúmes dos nossos camurupins!
Parabéns pela pescaria, pelo relato e as fotos que demonstram que as pemas estão perfeitamente bem embarcadas e que certamente não sofreram grande estresse e sobreviveram.













